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Makaravilakku - O Grande Festival de Śrī Ayyappa

  • Foto do escritor: Yuri Wolf
    Yuri Wolf
  • 15 de jan. de 2020
  • 8 min de leitura

സ്വാമിയേ ശരണം അയ്യപ്പ

svāmiye śaraṇaṃ ayyappa!


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Śrī Ayyappa, em sua iconografia mais tradicional, no estilo malayala.

॥ श्री अय्यप्प नमस्करं श्लोक॥

॥ śrī ayyappa namaskaraṃ śloka ॥

Hino de reverência ao excelso Pai de todos.

(versos selecionados)


लोकवीरं महापूज्यम् सर्वरक्षाकरं विभुम्।

पार्वतीहृदयानन्दं शास्तारं प्रणमाम्यहम्॥१॥

॥स्वामिये शरणमय्यप्प॥

loka-vīraṃ mahā-pūjyam sarva-rakṣākaraṃ vibhum ।

pārvatī-hṛdayānandaṃ śāstāraṃ praṇamāmyaham ॥1॥

॥ svāmiye śaraṇam-ayyappa ॥

Eu saúdo o Professor (śāstṛ), que é o herói do mundo, muito nobre.

É o senhor que protege todos, que alegra o coração de Pārvatī. (1)

[Reverências] Àquele que é pleno em si (svāmī)[monge, liberto em vida], refugio-me (śaraṇa) junto ao pai de todos (Ayyappa).


विप्रपूज्यं विश्ववन्द्यम् विष्णुशम्भो प्रियं सुतम्।

क्षिप्रप्रसादनिरतं शास्तारं प्रणमाम्यहम्॥२॥

॥स्वामिये शरणमय्यप्प॥

vipra-pūjyaṃ viśva-vandyam viṣṇu-śambho priyaṃ sutam ।

kṣipra-prasāda-nirataṃ śāstāraṃ praṇamāmyaham ॥2॥

॥ svāmiye śaraṇam-ayyappa ॥

Eu saúdo o Professor, que é adorado pelos brahmaṇas, saudado pelo universo

Que é o filho querido de Viṣṇu e Śiva, e que fica satisfeito muito rapidamente. (2)

[Reverências] Àquele que é pleno em si, refugio-me junto ao pai de todos.


मत्तमातङ्गगमनं कारुण्यामृतपूरितम्।

सर्वविघ्नहरम् देवं शास्तारं प्रणमाम्यहम्॥३॥

॥स्वामिये शरणमय्यप्प॥

matta-mātaṅga-gamanaṃ kāruṇyāmṛta-pūritam ।

sarva-vighna-haram devaṃ śāstāraṃ praṇamāmyaham ॥3॥

॥ svāmiye śaraṇam-ayyappa ॥

Eu saúdo o Professor, que anda como um elefante vigoroso, cheio de néctar de misericórdia, o Deus que remove todos os obstáculos. (3)

[Reverências] Àquele que é pleno em si, refugio-me junto ao pai de todos.


अस्मत्कुलेश्वरं देवं अस्मद्शत्रुविनशनम्।

अस्मदिष्टप्रदातारं शास्तारं प्रणमाम्यहम्॥४॥

॥स्वामिये शरणमय्यप्प॥

asmat-kuleśvaraṃ devaṃ asmad-śatru-vinaśanam ।

asmad-iṣṭa-pradātāraṃ śāstāraṃ praṇamāmyaham ॥4॥

॥ svāmiye śaraṇam-ayyappa ॥

Eu saúdo o Professor, o senhor da minha família, que destrói meus inimigos e cumpre todos os meus desejos. (4)

[Reverências] Àquele que é pleno em si, refugio-me junto ao pai de todos.


पाण्ढ्येशवं शतिलकं केरऌए केऌइविग्रहम्।

आर्त त्राणपरं देवं शास्तारं प्रणमाम्यहम्॥५॥

॥स्वामिये शरणमय्यप्प॥

pāṇḍhyeśavaṃ śatilakaṃ keraḷe keḷi-vigraham ।

ārta-trāṇa-paraṃ devaṃ śāstāraṃ praṇamāmyaham ॥5॥

svāmiye śaraṇam-ayyappa ॥

Eu saúdo o Professor, o maior do clã dos Pāṇḍyas, o deus amoroso do Keraḷa,

que cuida dos oprimidos. (5)

[Reverências] Àquele que é pleno em si, refugio-me junto ao pai de todos.


पञ्चरत्नाख्यमेतद्यो नित्यं शुद्धः पथेन्नरः।

तस्य प्रसन्नो भगवान् शास्तं वसति मानसे॥६॥

॥स्वामिये शरणमय्यप्प॥

pañca-ratnākhyametadyo nityaṃ śuddhaḥ pathennaraḥ ।

tasya prasanno bhagavān śāstaṃ vasati mānase ॥6॥

svāmiye śaraṇam-ayyappa ॥

Aquele que com pureza [em seu coração] canta diariamente estas cinco pedras preciosas, assim satisfaz o venerável Professor, e com ele e viverá em sua mente.


भूतनाथ सदानन्द सर्वभूतदयापर।

रक्ष रक्ष महाबहो शस्त्रे तुभ्यम् नमो नमः॥७॥

॥स्वामिये शरणमय्यप्प॥

bhūta-nātha sadānanda sarva-bhūta-dayā-para ।

rakṣa rakṣa mahā-baho śastre tubhyam namo namaḥ ॥7॥

svāmiye śaraṇamayyappa ॥

Àquele que é o senhor dos espíritos, a verdadeira bem-aventurança de todos os seres, o grande misericordioso.

Àquele que com grandes braços proteje à todos, Ó, Śāstṛ! (aquele que personifica o valor Dhármico das escrituras sagradas), grandes reverências a ti.



Hoje, dia 15 de janeiro, é celebrado o Makaravilakku, o grande festival de Śrī Ayyappa.

O Senhor Ayyappa é uma Deidade pouco conhecida no Brasil, mas muito popular no sul da Índia, principalmente nos estados do Kerala, Tamil Nadu e Telangana.


Seu nome, que na verdade é um título, assim como Bhagavan (“venerável”, para o Senhor Viṣṇu) ou Īśvara (“soberano”, para o Senhor Śiva) pode ser livremente traduzido como “Senhor Pai” nas línguas malayala (Kerala) e tâmil (Tamil Nadu).


Seu culto possui origem em uma grande combinação de tradições, tanto regionais, como chola, pāṇdya, ajivika, dentre outras, como também braḥmānica, tântrica, budista e jainista.


É uma das oito principais encarnações de Śrī Śāstā, uma consciência divina que manifesta-se em nosso plano como personalidades dotadas de profunda misericórdia, portadoras de grande conhecimento para auxiliar na liberação das almas condicionadas.


Ademais, dentre os Aṣṭaśāstā – as oito principais encarnações de Śrī Śāstā – tornou-se um com a personalidade de Śrī Dharmaśāstā, um grande sábio e vidente, que viveu na região da floresta de Śabarīmālā, e que foi abençoado por Śrī Rāma (a sétima encarnação de Śrī Viṣṇu) enquanto o mesmo cruzada o subcontinente indiano em direção à Laṅkā, para salvar sua amada consorte, Śrī Sītā.


Śrī Ayyappa é a Deidade que sincretiza o antigo conceito brāḥmānico de Aryaman/Indra: deuses que estão próximos dos homens e cuja natureza protetiva, aliada ao seu grande poder, preenche de confiança o coração de seus devotos.


Trata-se de uma manifestação divina em forma de um svāmī (neste caso, um yogin), originada da união entre o Senhor Śiva e a Senhora Mohinī, um avatāra feminino do Senhor Viṣṇu.


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Śrī Ayyappa em iconografia mais tradicional do norte indiano.


É também é conhecido por ser o Senhor dos Fantasmas e também de todos os seres ou dos elementos (Bhūtanātha), Aquele que dissemina conhecimento e paz (Dharmaśāstā), O professor que instrui sobre o caminho da evolução espiritual (Śāstā), Aquele que é adornado com uma jóia ou um sino em sua garganta (Maṇikaṇṭha/Maṇikaṇḍa), Aquele que é filho de Śrī Viṣṇu (Hari) e Śrī Śiva (Hara), Hariharasuta, dentre outras qualidades transcendentais.


Seus atributos cósmicos estão relacionados com o equilíbrio entre a luz e a sombra, o crescimento espiritual e material, o sacrifício devocional, o desprendimento/encaminhamento de espíritos perdidos e negativos, a purificação kármica (principalmente diante do planeta Saturno, conhecido como Śani Deva na astrologia hindu) e a identificação integral da alma individual (jīva) junto à Superalma (Paramātmān, a consciência absoluta universal).


Uma das mais famosas histórias sobre o seu advento se dá após a derrota do demônio Mahiśāsura diante da Senhora Durgā – conforme narrado no famoso texto Devī Māhātmyaṃ (ou Caṇḍī Pāṭha) –, quando então sua irmã Mahīśī parte para vingar sua morte.


Mahīśī havia obtido uma benção do Senhor Brahmā que a tornava virtualmente indestrutível: apenas uma criança nascida da força de Śrī Viṣṇu e Śrī Śiva poderia derrotá-la.


Assim, para salvar o mundo da aniquilação, o Senhor Viṣṇu encarna como a Senhora Mohinī (“aquela que ilude”, em sânscrito). Primeiramente, no famoso episódio da cosmologia hindu chamado de Samudra Manthana (“a bateção do oceano de leite”, para a obtenção do amṛta, o nectar da imortalidade), faz seu advento para iludir os asuras – demônios rivais aos devas – e roubar-lhes o halāhala, o mais tóxico veneno do universo.


Então, em sua forma feminina, Śrī Viṣṇu une-se com o Senhor Śaṅkara e então dá origem ao Senhor Śāstā.

Após o nascimento do menino – neste momento, a ser conhecido como o príncipe Maṇikaṇṭha –, seus pais depositam-no às margens do sagrado rio Pambā, no atual estado do Kerala, atendendo a um pedido de um soberano sem filhos e muito religioso, o rei Rājaśekhara.


Após a adoção do menino pelo casal real, este fora novamente abençoado com um filho, agora biológico: Rāja Rājān. Embora ambos os meninos crescessem como príncipes, Śrī Ayyappa se destacou nas artes marciais e demonstrou grande afinidade em todos os śāstras (escrituras sagradas).


Ao completar o treinamento e estudos de seus filhos, que eram ainda muito jovens, era a hora do monarca nomear o herdeiro do trono. O rei Rājaśekhara desejava que Maṇikaṇṭha fosse o seu sucessor, mas a rainha queria que seu filho fosse nomeado soberano. Então, ela cria uma série de impedimentos para o Senhor Ayyappa.


Desta forma, a rainha encena uma doença misteriosa que só poderia ser curada com o leite de uma tigresa, o que acarretaria uma tarefa praticamente impossível de ser realizada.


O destemido garoto divino então parte para a floresta. No caminho, percebe o propósito de sua encarnação na Terra e dirige-se para o embate junto a demoníaca Mahīśī.


Após uma feroz batalha, a asurī morre nas mãos de Śrī Ayyappa, recebendo mokṣa (a liberação do círculo de nascimentos e mortes, o saṃsāra).


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A vitória do garoto Maṇikaṇṭha sobre a asurī Mahīśī, sob o testemunho da jovem Śabarī.


Posteriormente, nosso herói retorna ao reino montado em uma tigresa acompanhada de seus dois filhotes, demonstrando sua natureza transcendental. Então, o rei Rājaśekhara reconhece sua divindade e o nomeia como sucessor do trono.


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O retorno triunfal de nosso herói.


Todavia, devido à sua natureza monástica, Senhor Ayyappa recusa o convite e retorna à floresta para sua ascensão divina, onde eventualmente torna-se um em consciência com Śrī Dharmaśāstā.


Então, o rei Rājaśekhara pede ao arquiteto divino, Śrī Viśvakarma, o projeto de um templo para ser construído na densa floresta na qual o Senhor dos Fantasmas havia vencido Mahīśī, na região de Śabarīmālā, no mesmo local onde o Senhor Dharmaśāstā e o Senhor Rāma haviam se encontrado, cerca de 4.000 anos antes. A primeira Deidade ali instalada foi esculpida pelo Senhor Paraśurāma (a sexta encarnação de Śrī Viṣṇu).


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Śabarīmālā Śrī Ayyappasvāmī Kśetraṃ, com os devotos carregando seus irumudis.


Assim sendo, o mais famoso e proeminente templo de Śrī Ayyappa, o Śabarīmālā Śrī Ayyappasvāmī Manḍira, é um dos maiores centros de peregrinação de toda a Índia, recebendo cerca de 100 milhões de peregrinos anualmente.


Localizado em uma área de difícil acesso, demanda grande esforço dos devotos que desejam receber o darśana (a visão/grande bênção) do Svāmī. Ademais, um jejum de 41 dias e uma série de preparos específicos devem ser observados para esta visita tão especial.


O Templo de Śabarīmālā é feito de ouro e possui uma escada com dezoito degraus, o Patinaṭṭāṃpaṭi, que representam a superação dos pañcendriyas (os cinco sentidos), a superação dos aṣṭarāgas – as oito emoções destruidoras: kāma (luxúria), krodha (raiva), lobha (avareza), moha (ignorância do apego), mada (orgulho), matsarya (competição desleal), asūyā (inveja), dāmbha (ato de vangloriar-se) – a superação do três guṇas (as qualidades universais: sattva (luz/bondade), rajas (paixão) e tamas (escuridão/ignorância) e, por fim, a superação de vidyā e avidyā (o conhecimento e o conhecimento errado – aquilo que se acredita saber, mas que não se sabe, de fato).



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Patinaṭṭāṃpaṭi, os dezoito degraus sagrados de Śabarīmālā.


Para estarem aptos a subir pelo Patinaṭṭāṃpaṭi, os devotos devem estar apropriadamente vestidos com seus dhotis (vestimenta tradicional que lembra saiotes) na cor preta, laranja ou azul, como também devem estar carregando o irumudi sobre suas cabeças – uma pequena bolsa com provisões para a peregrinação e itens para serem oferecidos à Deidade, cuidadosamente preparados sob a orientação de seus Gurusvāmīs.

Dentre os itens presentes no irumudi, o mais significativo é o nei thenga, o coco contendo gṛhtaghee, a manteiga clarificada.


Primeiramente, o Gurusvāmī remove a água do coco, representando a purificação do corpo e da mente do devoto após os 41 dias de jejum. Então, o mesmo preenche a fruta com o ghee, que figura como a essência do espírito do devoto.


Durante a visita, o devoto oferece o nei thenga para que os sacerdotes possam banhar a Deidade com o conteúdo do coco, que posteriormente é atirado a uma fogueira na parte exterior do templo. A simbologia é de que, após a presente experiência encarnatória, a consciência eterna do devoto (representada pelo ghee) torna-se una com o Divino, enquanto seu corpo material (representado pelo coco) é queimado – conforme manda a tradição hindu.


A vitória diante das condutas e sentimentos condicionantes que escravizam a consciência humana, levam o devoto à bênção última do Senhor Ayyappa, que permite ao mesmo conhecer sua verdadeira natureza transcendental: a identificação total com a Consciência Divina, que é resumida na famosa frase tat tvam asi (“tu és esse”, em sânscrito).



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Tat tvam asi, em malayala e sânscrito, na entrada principal de Śabarimālā.


Assim, no Templo de Śabarīmālā, devotos e Deidade são colocados no mesmo nível, condição muitíssimo incomum dentro da tradição hindu. Todos aqueles que se sujeitam aos desafios da viagem, tanto ao seu próprio interior quanto à mata fechada da região, são chamados de svāmī e obtém a graça d’Aquele que é o bastião da misericórdia.


Por fim, o festival Makaravilakku celebra o ápice das bênçãos concedidas pelo Senhor Ayyappa ao seus devotos, quando há o transito do Sol junto a constelação de Capricórnio (makara sakrānti). Acredita-se que o próprio Senhor Ayyappa manifesta-se como Makara Jyothi (a estrela Sirius) neste dia, quando também é acesa a lamparina (vilakku) na montanha Ponnambalamedu, a famosa Makaravilakku.



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Acima, a estrela Sirius, chamada de Makara Jyothi. Abaixo, a lamparina que representa a presença do Senhor dos Fantasmas no festival.


Invocações Mântricas:


ശ്ര്യയ്യപ്പ ഗായത്രീ

Śrī Ayyappa Gāyatrī


ഓം ഭൂതനഥായ വിദ്മഹേ

ഭവാനന്ദായ ധീമഹി

തന്നോ ശാസ്താ പ്രചോദയാത്

oṃ bhūta-nāthāya vidmahe

bhavānandāya dhīmahi ।

tanno śāstā pracodayāt ॥

Contemplamos Aquele que é o Senhor dos fantasmas/de todos os seres,

Meditamos n’Aquele que é o regozijo da prosperidade Reverenciamo-nos Àquele que é o professor, para que nos ilumine com sabedoria.


ശ്ര്യയ്യപ്പ മൂലമന്ത്ര

Śrī Ayyappa Mūlamantra


ഓം ഘ്രൂം നമഃ പരായ ഗോപ്ത്രേ

oṃ ghrūṃ namaḥ parāya goptre

Reverências ao protetor supremo.


Obs.: As inscrições acima que não estão grafadas no tradicional alfabeto devanāgarī, estão no alfabeto malayala, tradicional do estado do Kerala.


Reverências ao meu querido irmão espiritual e Gurusvāmī Śrī Pramod Śānti!

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Todas as Glórias à Śrī Śāstā!

Todas as Glórias à Śrī Śrī Ayyappa!


Minhas mais humildes, sinceras e profundas reverências,


Yuri D. Wolf.

സങ്കടമോചന

 
 
 

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